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sábado, 20 de novembro de 2010

Meta para Dilma Rousseff: a criação de três milhões de empregos

Dilma Rousseff nem tomou posse na Presidência da República, mas já tem meta a cumprir. O objetivo foi fixado pelo ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que anunciou a previsão do governo de criação de 3 milhões de empregos formais em 2011, o que representa 500 mil a mais do que a proposta para este ano. Para economistas, porém, é pouco provável que o Brasil alcance tal marca, dado o cenário econômico que espera a presidente eleita. As projeções mostram que o crescimento do país cairá quase à metade no ano que vem, de 7,5% para 4,5% e, muito provavelmente, o Banco Central terá que aumentar a taxa básica de juros (Selic) para controlar a inflação — um tranco na atividade.

Para piorar, segundo os especialistas, o aumento acelerado das importações, estimuladas pelo dólar baixo, já afeta a indústria nacional, impondo o fechamento de vagas. “A meta é muito otimista. Neste ano, tivemos um comportamento excepcional a economia por conta da recuperação da crise. O importante é manter esse ritmo ao longo dos próximos cinco anos. Mas o cenário é de um crescimento menor, o que significa desemprego maior”, afirmou o diretor-adjunto do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas (Cesit/Unicamp), Anselmo Luiz dos Santos. “Se chegarmos a 2,2 milhões de postos em 2011 já será um excelente resultado”, acrescentou.

O professor de economia da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Alberto Ramos apontou ainda o cenário externo adverso esperado para o próximo ano, por conta da crise da Zona do Euro, com destaque para a Irlanda e para Portugal. “Não sabemos como tudo isso afetará o Brasil, tampouco como ficará a nossa taxa de câmbio. Não há elementos que indiquem aceleração na criação de postos”, disse.

Enxugamento
Lupi anunciou a meta de 3 milhões de vagas com carteira assinada em 2011 durante a divulgação dos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O relatório revelou que, de janeiro a outubro de 2010, foram criados 2,4 milhões de postos, novo recorde para o período. O resultado foi 12% maior que o recorde anterior, verificado nos 10 primeiros meses de 2008, quando foram criadas 2,1 milhões de vagas. “Os números mostram o acerto das políticas públicas e a pujança do mercado interno. Com certeza, vamos ultrapassar a meta de criar 2,5 milhões de empregos em 2010”, disse o ministro.

Contudo, na avaliação do economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC) Fábio Bentes, o país não alcançará sequer a marca de 2,5 milhões de postos neste ano. “No mês de dezembro, geralmente, há um enxugamento do mercado de trabalho. Além do número maior de demissões, a procura por vagas é menor. A nossa aposta é de que fecharemos o ano com 2,3 milhões de empregos novos”, afirmou. Ele disse ainda que a expectativa da CNC é que sejam criados entre 1,9 milhão e 2 milhões de empregos formais no próximo ano. “Se repetirmos os 2,3 milhões, será um resultado espetacular. Mas o que esperamos mesmo é um nível de desaceleração nas contratações”, ressaltou.

Para Lupi, porém, o mês de dezembro deve apresentar número de desligamentos inferior ao do ano passado, quando as demissões somaram cerca de 400 mil postos com carteira assinada. “Acredito nisso porque houve antecipação dos desligamentos em alguns setores. Por exemplo, por conta das chuvas, a colheita agrícola foi antecipada e, consequentemente, as dispensas ocorreram mais cedo”, explicou.

O número de admissões em outubro foi de 1,6 milhão e o de desligamentos, de 1,4 milhão. No Distrito Federal, foram registradas 271.896 admissões e 242.292 demissões, o que representa um saldo de 29.604 postos de trabalhos

Expectativa frustrada
Na análise apenas do mês de outubro, foram criados 204.804 empregos com carteira assinada. O resultado é 11,3% menor do que o apresentado em outubro de 2009, quando foram abertos 230.956 postos. O valor contraria o que o próprio Lupi havia estimado no mês passado, quando disse que outubro, provavelmente, seria recorde para o mês. Segundo o ministro, a previsão não se concretizou devido a fatores sazonais. “Na construção civil, houve retração por conta da proibição de realizar obras públicas durante o período eleitoral. Além disso, tivemos resultado negativo na colheita agrícola”, explicou Lupi.

Mário Rudson Rodrigues Braga, 21 anos, foi um dos beneficiados pelo avanço no número de contratações em outubro. Depois de passar apenas uma semana desempregado, ele foi admitido há cerca de um mês como vendedor em uma loja de roupas. Para ele, as experiências adquiridas em outras três empresas foram decisivas para ser selecionado. “Ser comunicativo, ter uma boa dicção e uma boa aparência são essenciais na hora da entrevista. Faço faculdade e, no futuro, vou buscar um concurso público”, observou.

Já a vendedora Givanilda Gomes da Silva, 37, conseguiu, há 15 dias, uma contratação temporária para trabalhar em uma loja de calçados, depois de dois meses desempregada. Givanilda descobriu a vaga nos classificados de um jornal, participou de uma seleção e recebeu a resposta positiva um dia depois da entrevista. Com as comissões, ela espera receber até R$ 900 no fim do mês. “Estou como temporária, mas tenho confiança de que serei efetivada. Minha filha já está cobrando o presente de Natal”, brincou.

Em termos setoriais, os destaques, em números absolutos, foram os de serviços (86.207), comércio (81.347) e indústria da transformação (46.923). Este último, porém, reduziu o seu dinamismo em relação aos meses anteriores. Segundo Lupi, a desaceleração se deve ao fato da queda na produção da indústria de produtos alimentícios, principalmente no que diz respeito ao setor sulcroalcooleiro. Para o economista Carlos Alberto Ramos, porém, os efeitos da taxa de câmbio não podem ser desprezados. “O dólar alto, o aumento da taxa de juros e a falta de incentivos para o setor certamente atingiram a indústria. Não podemos dizer que a produção de açúcar e álcool foram os grandes responsáveis pelo arrefecimento na indústria de transformação”, criticou.

Todas as cinco grandes regiões do Brasil apresentaram elevação no número de empregos criados. O destaque foi a Região Sudeste (com 92.594 postos), seguida das regiões Nordeste (com 53.291), Sul (48.891), Norte (7.018) e Centro-Oeste (3.010). No que diz respeito às unidades da Federação, os destaques em números absolutos foram São Paulo (55.377 postos), Rio de Janeiro (19.571), Rio Grande do Sul (18.592), Pernambuco (15.781), Santa Catarina (15.345) e Paraná (14.954).


AMEAÇA CHINESA
Durante a divulgação dos dados de trabalho e emprego, o ministro Carlos Lupi demonstrou preocupação em relação à possível desindustrialização do país durante o próximo ano, principalmente por conta da desvalorização do dólar. “Enfrentamos uma concorrência forte, sobretudo de produtos chineses. Precisamos encontrar mecanismos para aprimorar tanto a indústria nacional quanto os acordos bilaterais”, disse o ministro.


Ministro oferecido
Não bastasse ter jogado no colo da presidente eleita, Dilma Rousseff, uma meta quase impossível de criação de 3 milhões de empregos em 2011, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, está pressionando por todos os lados para continuar no cargo. Ele sabe que é pequena a chance de Dilma atender o seu pleito, por causa de seu estilo espalhafatoso, que acabou minando a credibilidade de uma pasta que deveria ser vista como referência pela população. Mas, a assessores, garantiu que não arredará pé de seu propósito.

Para mostrar o quanto deseja continuar ministro a partir do ano que vem, Lupi usou ontem uma coletiva de imprensa para mandar seu recado à presidente eleita. Segundo ele, Dilma ainda não lhe deu nenhum telefonema para comunicá-lo de sua permanência. “Ela é foi eleita e tem toda a liberdade para escolher quem vai ficar no cargo. Mas, se eu receber o convite, aceitarei com prazer”, disse.

Segundo ele, o PDT, partido do qual é integrante, reivindica a Pasta do Trabalho. “Apoiaremos o próximo ministro com ou sem a nossa participação. Defendemos a continuidade do governo”, frisou Lupi. A expectativa é de que Dilma feche toda a sua equipe de ministros até o próximo 15 de dezembro. Os nomes do pessoal da área econômica devem sair nos próximos dias, para acalmar o mercado financeiro.

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